28/12/2012, Distrito de Araras, RO, Brasil

Talvez uma das melhores sensações de satisfação por estar vivo seja a que senti ontem: o reencontro com a pessoa amada.
E não me refiro ao amor homem-mulher. Falo de um reencontro com uma pessoa que conheci, convivi, me apaixonei e guardei pra sempre o olhar, o sorriso, e o nariz que tanto gosto.. É simplesmente uma dessas pessoas que você nunca esquece; que se transforma naquela pessoa distante mas que está sempre lá dentro, às vezes 'esquecida' porém enraizada em atitudes que te acompanham pro resto da vida.
Engraçado seria eu dizer que esse reencontro - o maior dos presentes que recebi nessas férias -aconteceu em um distrito que tem o mesmo nome de uma cidade do interior de São Paulo e que abriga não mais de 200 habitantes, segundo meu pai, Seu Ratinho, dono do único posto de gasolina do lugar e frequentador de uma das 4 igrejas, também conhecido por seu humor peculiar (pra não dizer gaiato e mal-humorado).
Aqui as ruas ainda não são asfaltadas, só se vê barro e lama entre as casas e estabelecimentos comerciais, salvo a estrada BR-425 sentido Guajará-Mirim que é o ponto principal do Distrito.
A internet chega por primeira vez dentro de alguns dias, mas sinal de celular ainda não tem data prevista, sendo assim, a solução continuará sendo usar um chip da Bolívia.
As pessoas quando ficam doentes precisam ir até Vila Nova, município a 35 minutos de distância indo de carro, para serem atendidas. Feita essa introdução, nem preciso dizer que a nossa Arara nada tem em comum com a de SP.
Pois foi aqui sim, nesse fim de mundo segundo tantas línguas, que recebi meu grande presente e tantos outros, ao encontrar prazer no simples.
No meio da tarde, quando o tédio bate, dá pra arrancar manga do pé que fica no quintal de casa; é comum pegar fiado no mercadinho, restaurante, padaria.. afinal, todo mundo se conhece; o limão que tempera meu peixe no almoço é arrancado do limoeiro que fica na entrada do posto; neste exato momento meu pai pediu a um amigo que arrancasse umas graviolas, e a forma de agradecimento é dar algumas pra ele.. As outras ele levou até Dona Ana e pediu a esta que nos fizesse um suco.
Os mosquitos são muitos mas ainda assim me arrisco a espalhar por aí que aqui é um bom lugar para se ler um livro ao ar livre.
E é assim, nesse cenário às vezes tão contraditório, que eu tenho visto meu dia-a-dia acordar e apagar, brilhar e humidecer.
Essa realidade talvez nem seja tão bela assim como vejo, na verdade desconfio que algo tem a ver com aquele reencontro com Narizinho, presença que enche a alma de alegria e os olhos do coração de emoção.
A pequena se chama Anie e apesar da pouca idade, acredite, sua história não caberia dentro desse caderno inteiro.

Comentarios

  1. Me encanta o jeito leve, doce, claro e bem escrito que vc sempre escreve. Para quem tem a sorte de te conhecer pessoalmente percebe que vc tambem vive e fala assim de maneira doce e leve no dia a dia. O mundo é oq vc vive dele, e como vc lembra dele, e eu tenho certeza que o Araras e exatamente assim belo e harmonioso nas pequenas coisas simples que vc descreveu. Parabéns Su, vc faz do mundo algo mais precioso pra mim e para as pessoas que te conhecem.

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